Folia dos blocos de rua é resgatada

Folia dos blocos de rua é resgatada

Fonte: www.noolhar.com.br (Matéria antiga)

Um reencontro emocionado dos pés com o chão. Dona Raimunda Pinheiro de Lima, 63, não cabia em si ao novamente pisar na avenida Coronel Alexanzito para desfilar em um bloco de carnaval em Aracati. Desafiou a ação do tempo para pular, sambar, gesticular ao som das marchinhas que lhe embalaram tantos carnavais. Era como um sonho.

Há 14 anos nenhum bloco desfilava ali. E dona Raimunda não queria deixar a chance escapar. “Estou com toda a garra. Me sinto como se tivesse 15 anos de novo, nos tempos em que eu aqui brincava”, revelou, pulando ao som de “Se você pensa que cachaça é água…”. Dona Raimunda era uma entre os muitos brincantes da terceira idade no bloco Eternos Foliões, que antigamente era formado por jovens vestidos de idosos. O enredo escolhido para o retorno foi Aracati, terra dos apelidos. Por meio das fantasias foram feitas alusões a Casturina Pinto, personagem folclórica que deu a fama à cidade. Ela ficava na janela de casa vendo a vida passar, e adquiriu o costume de dar apelidos a todos que passavam. “O meu apelido é Teté, mas não foi a Casturina que deu, não”, contou dona Raimunda.

A ideia de resgatar a folia de rua foi uma das apostas deste ano em Aracati, considerado um dos municípios mais animados do Ceará nesta época do ano. O chamado Carnaval Cultural no domingo, segunda e terça-feira reuniu também outros blocos que fizeram o público voltar no tempo. Tinha rei Momo e rainha. Bandinha de metais e alas de índio, orixás e capoeira. Até os bonecos do bloco Gigantes do Reggae, de Canoa Quebrada, marcaram presença.

Mesmo na intensa agitação da avenida Coronel Pompeu, apelidada de “corredor da folia”, houve sinais de que a cultura dos blocos de rua de Aracati tende a se perpetuar. Muitos grupos vestiram blusas iguais, formando blocos alternativos, ou combinaram de sair com a mesma fantasia.

Um bom exemplo foi o de Evanilda da Silva Teixeira, 17, e sua turma de 15 meninas. Elas se intitularam “As Brasileirinhas”, usando uniformes estilizados da seleção brasileira de futebol, pegando como gancho a Copa do Mundo da Alemanha. “Somos amigas de infância e há quatro anos saímos com fantasia igual. Queremos manter essa tradição.”

Claude Bornél
Enviado a Aracati

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