Instituto do Museu Jaguaribano – Memória e Patrimônio
Particularmente, o Instituto do Museu Jaguaribano se destaca por dois aspectos: ser considerado, segundo seus fundadores, o museu de toda a região jaguaribana e ser vanguardista na luta pela preservação dos bens históricos e culturais locais. Tanto o Museu Jaguaribano quanto o Arquivo do Jaguaribe foram institucionalizados pelo Instituto do Museu Jaguaribano, que fornece o respaldo legal para ambas as instituições funcionarem. Durante seu processo de criação, estabeleceu-se uma prática na qual se recriou não apenas a história local, mas também a da própria instituição. Proponho, portanto, uma reflexão sobre como era representado o patrimônio durante a construção do Instituto do Museu Jaguaribano, por meio do discurso dos fundadores, no contexto da preservação dos bens históricos e culturais do município. Dessa forma, podemos questionar de que maneira uma instituição dedicada à memória influenciou a consciência de preservação do patrimônio histórico e cultural na história local. Observo uma grande influência da memória na escrita da história, moldando a representação de um discurso sobre o patrimônio em certos segmentos sociais, uma vez que essa instituição de preservação confirma uma determinada visão do passado da cidade. Segundo Huyssen (2000), vivemos atualmente sob uma “sedução da memória” decorrente de uma crise enfrentada pela modernidade. Essa busca por um passado em constante mudança é evidenciada pela emergência de uma história que se acelera (NORA, 1981). Essa crise na modernidade gerou mudanças que levam o mundo contemporâneo a reconsiderar o conceito de memória, possibilitando uma nova interpretação e compreensão do passado, pois “a necessidade de memória é a necessidade de história” (NORA, 1981, p. 8-9). No entanto, é importante ressaltar que memória não é história, mas sim um fenômeno socialmente construído, seletivo, articulado e sujeito à ação política de determinados grupos sociais, que também reforça o sentimento de pertencimento. “A memória de uma sociedade é negociada no corpo social de crenças e valores, rituais e instituições” (HUYSSEN, 2000, p. 68). Dessa forma, o uso da memória está em constante redefinição para si e para os outros; “quando um período deixa de interessar ao período seguinte, isso não significa que o grupo esqueceu parte do passado. Na verdade, o que ocorre é que o grupo não é mais o mesmo” (ABREU, 1998, p. 77-97). O conceito de memória diversificou-se, representando diferentes abordagens do mesmo fenômeno. Halbwachs (2006) defendia a ideia de que a memória, embora pessoal, estava vinculada ao comportamento grupal, sem excluir o aspecto individual no estudo da memória coletiva. Sua ênfase residia no fato de que as memórias eram formadas e renovadas por meio dos laços de solidariedade entre os indivíduos, construídos através de elementos comuns e simbólicos. Segundo Ricoeur (2007), a memória está ligada à passagem do tempo e baseada na continuidade compreensível de uma narrativa histórica e singular do indivíduo: “Ao lembrar algo, alguém se lembra de si” (RICOEUR, 2007, p. 107). A memória não se limita apenas a espaços físicos, mas também a lugares de referência onde é exercida, estruturada, hierarquizada, preservada e produzida; esses lugares são considerados lugares de memória (NORA, 1981). O patrimônio, portanto, é um lugar de memória distinto, pois é um campo de disputas simbólicas e de exercício de poder (BOURDIEU, 1989). Tanto a ideia de preservação, que implica o ato de lembrar e/ou esquecer – determinando o que se quer preservar, selecionar e definir -, quanto o tombamento, consistem na exclusão de um bem cultural para que outros grupos não possam se apropriar de seu passado, resultando assim na ressignificação de sua percepção com base na hierarquia social ou no significado de si e dos outros. A memória interage com o patrimônio, que assume uma força coletiva, reproduzindo as práticas culturais de diferentes grupos. As representações dos sujeitos sociais variam não apenas de acordo com a posição social, mas também na percepção e apreciação do patrimônio, e o Instituto do Museu Jaguaribano é também um lugar de memória. Nessa interação entre memória e patrimônio, os espaços passam a consolidar o sentimento de reconhecimento e pertencimento, determinando o que é comum e o que é diferente entre os grupos, cuja ação se materializa nas instituições de preservação. Dessa forma, a consciência desse discurso de poder (FOUCAULT, 2001) muda de um grupo para outro; é a mudança desse ponto de vista que transforma um lugar em algo coletivo ou individual. Assim, as representações desses grupos variam não apenas de acordo com a posição social, mas também na percepção e apreciação do bem patrimonial que se deseja preservar.
Fonte: Alex Silva Farias – Memória e patrimônio na construção histórica do Instituto do Museu Jaguaribano
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