Poeta Paula Ney
Francisco de Paula Ney, cearense, poeta, boêmio, jornalista e eloqüente orador. Nasceu em Aracati no dia 02 de fevereiro de 1858. Filho de Mariano de Melo Nei – alfaiate – primeiro Mestre do corte em Fortaleza e D. Carlota Cavalcanti de Sousa Pinheiro.
Quando menino, constituiu-se o tormento de diferentes casas de ensino.
Em Fortaleza estudou no Ateneu Cearense, sendo contemporâneo de Capistrano de Abreu, Rocha Lima, Domingos Olímpio, João Lopes, Rodolfo Teófilo e Xilderico de Farias. Em 1873 passou a estudar no Seminário de Fortaleza, atendendo ao desejo de seus pais. Por falta de vocação e mal comportamento, é devolvido aos pais, ingressando então no Liceu Cearense. Cedo, radicou-se no Rio de Janeiro, começou a estudar na Faculdade Nacional de Medicina. Após uma desilusão amorosa e a reprovação nos exames, decidiu dar continuidade aos seus estudos na Faculdade de Medicina da Bahia. Desistindo de estudar medicina e, saudoso da boemia carioca, retorna ao Rio de Janeiro.
Escritor e jornalista de grande talento, Paula Ney era bem humorado e modesto: não assinava seus textos.
Participou das rodas boêmias do Rio do século 19.
Nomeado Diretor da Hospedaria dos Emigrantes por Floriano Peixoto, foi destituído por Prudente de Morais.
Francisco de Paula Ney, morava no Rio de Janeiro nos idos dos anos 30.
Certa vez, sua esposa, preocupada com a ausência do marido,
foi encontrá-lo bebendo com amigos em plena sexta-feira santa.
Ao ver a mulher, Ney levanta-se e sai tombando.
A esposa insiste: – Até na sexta-feira santa, quando morreu
Deus! O poeta respondeu:- Quando morre a divindade,
a humanidade cambaleia!
Da poesia de Paula Ney são conhecidas por volta de seis. O soneto “A Fortaleza” segundo os biógrafos Raimundo Menezes e Ciro Vieira Cunha, foi reproduzido em várias antologias, resistindo ao tempo. Ele retrata seu grande amor pela terra natal. Fortaleza é conhecida como “A loira desposada do sol” por todo o país.
Fortaleza
Ao longe, em brancas praias embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares,
A Fortaleza, a loira desposada
Do sol, dormita à sombra dos palmares.
Loura de sol e branca de luares,
Como uma hóstia de luz cristalizada,
Entre verbenas e jardins pousada
Na brancura de místicos altares.
Lá canta em cada ramo um passarinho,
Há pipilos de amor em cada ninho,
Na solidão dos verdes matagais…
É minha terra! a terra de Iracema,
O decantado e esplêndido poema
De alegria e beleza universais!
Outros, que também tiveram desregrado viver, não sucumbiram sem que nos deixassem em obras imperecíveis o traço marcante e indeléveI de suas mentalidades. Paula Ney, porém, é único. Tendo podido legar-nos uma obra imorredoura, não o fez e passou pela vida numa despreocupação de cigarra imprevidente, ou pássaro canoro que não dá apreço aos gongeios que modula. Apesar dos seus estonteamentos, Paula Ney era senhor duma sensibilidade de rara delicadeza moral. Coelho Neto, no livro “Fogo Fátuo” reconhece-lhe a beleza da alma: “Uma criança dobrava-o, a dor de um animal comovia-o até às lágrimas, uma planta machucada ao sol inspirava-lhe piedade”. O banqueiro e o Operário, a matrona e a “cocote”, o fidalgo e o mendigo, tratavam-no com a mesma familiaridade – era o Ney, o alegre Ney, que fazia rir, mas também o Ney que enxugava lágrimas, que levava criancinhas doentes aos consultórios dos médicos, que visitava os enfermos em verdadeiras tocas de miséria, que defendia os animais com um carinho piedoso – abelha dourada que distribuía o mel e as ferroadas, com a mesma liberalidade.
Paula Ney Boêmio
Paula Ney foi uma figura marcante no Rio de Janeiro, fazendo parte de uma brilhante geração de literatos. Em sua época, os cafés e as confeitarias eram os lugares de encontro dos intelectuais. O grupo frequentava a Confeitaria Pascoal, na Rua do Ouvidor e, posteriormente, migraram para a Confeitaria Colombo, com sua fundação, na Gonçalves Dias em 1894.
Seus companheiros de boemia eram: Olavo Bilac, Coelho Neto, José do Patrocínio, Pardal Mallet, Luís Murat e Guimarães Passos.
A Rua do Ouvidor era o lugar mais famoso do Rio de Janeiro, aclamada pelos escritores, sendo destacada no capítulo V do romance Tentação do cearense Adolfo Caminha.
“A Rua do Ouvidor estava num de seus dias de festiva alacridade, inteiramente cheia, como um rio a transbordar, tumultuoso, murmurejante e iluminado por um sol acariciador de primavera. Iam e vinham os habitués de ambos os sexos, numa procissão de toilettes vivas, num burburinho de festa pública entrechocando-se, acotovelando-se. Famílias conversavam à porta das lojas, moças e velhas madamas, senhoras de todas as idades e de todos os tamanhos, rindo, como se estivessem no interior de suas casas, beijando-se alto, enquanto os pais e os maridos discutiam política à porta dos cafés, à espera que elas acabassem de “fazer as compras”. Ecoavam gargalhadas entre os homens. Uma banda de música a tocar polcas e valsas faria toda aquela gente esquecer-se de que estava na Rua do Ouvidor e cair num grande bailado ao ar livre. As maiores notabilidades da política, da literatura e das artes, os mais conhecidos escritores e homens de Estado viam-se ali, em grupos, à porta do Café de Londres, do Castelões ou do Pascoal, frechando, com o olhar, o madamismo suspeito e as demoiselles ricas, assistindo ao desfilar tumultuoso das cocotes, e das condessas, biografando-as uns aos outros com risinhos de inveterada malícia, observando-lhes o andar, os meneios, a toilette, a opulência das carnes, como se as quisessem devorar num ímpeto de canibalismo sexual, acompanhando-as a perder de vista, gulosos, famintos e banais. Moços de flor ao peito, no rigor da moda, alguns chegados de Paris, iam e vinham, numa ostentação pedantesca de polainas, de casimiras claras, de coletes brancos e de frases tolas, cumprimentando à direita e à esquerda, erectos como figuras de vitrina. Os armazéns de modas enchiam-se; enchiam-se os cafés e as confeitarias, e o zunzum aumentava de entontecer, dentro das lojas e na rua.”
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Paula Ney jornalista
Desde cedo descobriu que sua verdadeira vocação era o jornalismo e, por essa profissão, largou o curso de medicina. Raimundo de Menezes, no livro A vida boêmia de Paula Ney fala da sua atuação enquanto repórter:
“Foi repórter e alardeou, sempre com satisfação, este mister, cavando novidades na Polícia e bisbilhotando boatos no Parlamento.
“Além de fundar “O MEIO”, juntamente com Coelho Neto e Pardal Mallet, panfleto que teve vida rápida, mandado fechar pelo governo provisório, houve tempo em que dirigiu a revista “O ÁLBUM”, (1893-1894), também de pouca duração.”
“Fez reportagens, durante largo tempo, em épocas diferentes, para a “GAZETA DE NOTÍCIAS”, para a “GAZETA DA TARDE”, para o “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”, para a “CIDADE DO RIO”…
Paula Ney trabalhou com José do Patrocínio no jornal Gazeta de Notícias. Ambos propagavam a abolição dos escravos, tendo trabalhado com afinco em prol dessa causa. Foi Paula Ney quem trouxe José do Patrocínio ao Ceará para trazer mais um incentivo à causa abolicionista, porque no Ceará o movimento já era uma realidade. É de José do Patrocínio a famosa frase: “O Ceará é a terra da luz!”
Paula Ney era um homem muito inteligente e tinha respostas prontas para todas as ocasiões. Fazia rir a todo mundo. Suas piadas ficaram famosas. ..:
Colegas…
Após a sua entrada para a pasta da Fazenda, havia o conselheiro Francisco Belisário Soares de Sousa recorrido, já, três vezes, ao crédito do país no estrangeiro, quando, ao passar um dia pela rua do Ouvidor, ouviu que alguém o saudava, alto: – Bom dia, sr. Conselheiro, meu amigo e colega! O ministro voltou-se, e, vendo Paula Ney, de chapéu na mão, numa reverência, correspondeu, atrapalhado, ao cumprimento. E Ney, logo, com o mesmo sorriso: – Colega, sim… Porque… V. Excia. Também não vive de empréstimos?
O calo
Paula Ney, o maior desperdiçador de talento que o Brasil já possuiu, não perdoava os seus desafetos e, ainda menos, as nulidades pretensiosas que prosperavam no seu tempo. Conservava-se, uma tarde, em um grupo na rua do Ouvidor, sobre o prestígio da imprensa, quando um presentes, que se dizia jornalista, aventurou, acaciano: – A imprensa é um grande corpo… – É… é… – atalhou Paula Ney, piscando por trás do “pince-nez”. – A imprensa é um grande corpo. Mas você, nesse corpo… E sem temer a reação: – É o calo do dedo mínimo do pé esquerdo!…
O poeta viveu intensamente a sua permanência neste planeta, repartindo a existência descuidosa entre salas de redações, cafés e botequins, infalível em rodas patuscas de literatos e em quaisquer manifestações de rua que agitassem a alma popular.
Paula Ney nunca pretendeu se dedicar seriamente à literatura, e muito menos viver dela – passou sua mocidade vivendo do que lhe rendia sua atividade na imprensa diária, bem como dos freqüentes favores que lhe faziam seus colegas e conhecidos. Sua vida apenas conheceu relativa estabilidade após seu casamento, quando o status de pai de família, o emprego público e a saúde cada vez mais fragilizada impediam-lhe de viver no mesmo desregramento de antes. Não obstante fugir da carreira literária, que considerava avessa ao seu gênio turbulento e ansioso por movimento, Paula Ney, em sua curta existência (faleceu aos 39 anos de idade), acabou deixando à posteridade, além das linhas que anonimamente escreveu nos jornais, também algumas modestas produções poéticas, que, juntamente com alguns discursos de sua lavra (Paula Ney foi brilhante orador, ficando famosa sua capacidade de improvisação, sendo que nos restou algumas transcrições de seus discursos nos jornais da época), compõem seu reduzido acervo literário.
Atacado de tuberculose pulmonar, faleceu em 13 de outubro de 1897, no Rio de Janeiro.
Fortaleza homenageou Paula Ney com um nome de rua. É uma rua residencial que nasce na Rua Barbosa de Freitas e morre na via férrea Parangaba-Mucuripe. No Rio de Janeiro a rua Paula Ney fica no Realengo. Em São Paulo a rua Paula Ney se situa no Bairro da Aclimação.
Paula Ney nutria um grande amor pelo Ceará. Ele costumava dizer: “Pelo Brasil eu morro e pelo Ceará eu mato!”.
No livro “A conquista” de Coelho Neto é narrada a recepção feita por ele e Paula Ney aos retirantes do Ceará, fato também relatado por Raimundo Menezes em seu livro “A vida boemia de Paula Ney” quando houve a seca dos “Três Oitos” no Ceará. Paula Ney soube que os retirantes chegariam de navio ao Rio de Janeiro. Junto com Coelho Neto foram recepcioná-los. “Ney, de pé, a gesticular com o chapéu, gritava emocionado: – “Salve, Ceará! Cearenses, está aqui o Ney, vosso irmão, vosso patrício, que vos veio esperar. O Ney! Aqui estou eu! Aqui estou eu! O Ney!” Deu apoio, incentivo e consolo aos retirantes. Depois voltou-se para Coelho Neto: – “Ah! “seu” Neto! balbuciou, e, emocionado, chorou, como uma criança..
“Encontrava-se na capital cearense, em férias parlamentares, pelas alturas de 1891, o então deputado federal João Lopes Ferreira Filho, íntimo amigo de Paula Ney e seu antigo companheiro dos bancos do “Ateneu”. Quase nas vésperas do seu regresso ao Rio, recebeu ele um telegrama do boêmio, em o qual lhe pedia que levasse dois saquinhos de areia da praia do Mocuripe. A princípio estranhou a originalidade do pedido, mas, como lhe competia, levou a encomenda. Chegado que foi à Capital Federal, Ney, propositadamente, não lhe apareceu no desembarque, alegando motivos de doença. João Lopes mandou levar-lhe, então, os dois pacotinhos, com a recomendação de que, à noite, iria visitá-lo. Efetivamente, o congressista cearense rumou, ao anoitecer, para a casa do poeta , então à rua Buarque de Macedo, no Catete. – Oh! “seu” Ney, disse logo de entrada, para que diabo quer você, no Rio, areia do Mocuripe? Ao que, o boêmio, tomando do braço do amigo, empurrou-o casa adentro, e moustrou-lhe na alcova a espôsa que esperava dar à luz o primogênito. – Vê? A minha esdrúxula encomenda, no seu modo de julgar, tem a sua razão de ser. Se não, veja:_o meu primeiro filho há de ser cearense, porque vai nascer sobre a areia do Mocuripe…”
Fontes: http://www.biblioteca-servicos.ufc.br, Literatura real, http://www.aracati.net
Fonte: http://cearanobre.blogspot.com/2011/08/poeta-paula-ney.html
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