O auge econômico e a decadência
O Nordeste representa o marco inicial da colonização brasileira. Neste cenário, processou-se a evolução econômica, social e política por que passou o país durante quase todo o período colonial.
Esse processo evolutivo deu-se em torno de dois eixos: o da cultura da cana de açúcar, nas áreas litorâneas, destinada à fabricação do açúcar, e o da criação do gado, responsável pela ocupação das terras do interior.
A ocupação e exploração das terras interioranas, principalmente daquelas situadas nas zonas semi-áridas, só foram objetivadas quando constatou-se sua serventia para a pecuária.
Por longo tempo, as terras da Capitania do “Siará Grande” não despertaram o interesse da Coroa Portuguesa e tampouco atraíram possíveis invasores. As tentativas de conquista por parte da Metrópole, a partir de 1603, como também o domínio holandês, não tinham objetivos colonizadores. Somente com o pastoreio se dá a quebra definitiva do exclusivismo do açúcar e efetiva-se a exploração do interior, iniciando-se o desenvolvimento das chamadas Capitanias do Norte.
A ocupação primária do sertão cearense consolidou-se com o gado trazido por colonizadores de capitanias vizinhas, principalmente Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte que, requerendo as primeiras sesmarias, vieram ocupar, inicialmente, os vales dos rios Jaguaribe e Acaraú, pontos essenciais de colonização.
As fazendas aumentavam e a produção bovina crescia com rapidez. Entretanto, a escassa população cearense, de baixo poder aquisitivo, não consumia toda a produção de carne da região, excedente às necessidades do mercado local.
O problema, de início, foi solucionado com a comercialização do gado em outros mercados consumidores, como em Pernambuco, que se encontrava em primeiro plano na área açucareira. A pecuária teve importante papel para esta atividade da Zona da Mata, através do fornecimento de animais para o trabalho e para o abastecimento de carne e couro, em razão da proibição da criação de gado nessa faixa do litoral. A criação de gado foi, então, o principal responsável pela expansão, ocupação e organização inicial do espaço cearense.
A longo prazo, porém, o negócio não era compensador, uma vez que o gado emagrecia diante de tantos dias de grandes caminhadas, debilitando-se ao ponto de não terem condições físicas para o abate. O gado, então, era vendido por preços mais baixos, em virtude da perspectiva da volta para a fazenda de origem.
Na impossibilidade de concorrer comercialmente com os rebanhos oriundos dos sertões da capitania e de suas vizinhas, os fazendeiros da área litorânea, a partir da primeira metade do século XVIII, passaram a exportar seu gado abatido, transformado em carne seca salgada e em couro, formando-se assim a conhecida indústria de charque.
As condições geofísicas do litoral pastoril do Ceará favoreceram o surgimento desta indústria: matéria-prima abundante; ventos constantes e baixa umidade relativa do ar, favoráveis à secagem e à duração do produto; existência do sal e barras acessíveis à cabotagem da época.
Surgiram, assim, nesta Capitania, as fábricas de beneficiar carne, as chamadas Oficinas Charqueadas ou Feitorias, instaladas nos estuários dos rios Jaguaribe, Acaraú e Coreaú, estendendo-se depois ao Parnaíba, no Piauí, e ao Açu e Mossoró, no Rio Grande do Norte. Tais instalações, que permitiam o embarque direto de produtos fabricados por esses mercados, foram os elementos que favoreceram o progresso do Ceará.
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